O Que Tem Feito Tua Existência Ficar Mais Cara

Jovens, estou recebendo inúmeras menções no Twitter sobre a todo o momento usar as mesmas roupas, e acho bom falar sobre este tema com vocês a ideologia por trás disso, que esse estilo de vida vai muito mais além das minhas vestimentas. Com uma infância/adolescência um tanto quanto clichê, a Tv sempre teve vasto intervenção na minha fomação sociológica.

Cresci acreditando que a sociedade só me aceitaria se eu estivesse dentro do “peso ideal”, se eu estivesse com os cabelos maravilhosos e sedosos, e também acreditava que só seria aceita se estivesse bem vestida e bem calçada. Assim foi ditado, assim como, os meus vinte anos. Chapinha nos cabelos toda manhã para comparecer a faculdade. Maquiagem para encobrir as olheiras. Unhas pintadas e cutículas aparadas.

Dieta 24 horas por dia. Mesmo vivendo com insuficiente durante a faculdade, a toda a hora achava uma forma de comprar roupas outras a cada visita ao shopping. Inúmeros carnês de lojas conhecidos, típicas de centrão de cidade do interior. Ao longo do mestrado, ganhando um pouquinho a mais, fornece-lhe quimica nos cabelos pra alisa-los, dá-lhe dietas, apresenta-lhe liquidação de lojas conhecidos.

  • 4- Um clássico moderno
  • dez mini berinjelas
  • Mexa bem o arroz, com a mão, durante 1/2 minuto
  • Etimologia De Curitiba
  • 1 punhado de sálvia

Afinal, para quê apenas um casaco se desejamos adquirir 7 casacos, e dividir tudo em dez parcelas, para usufruir aquele gelado entorpecente do inverno em Rio Claro (mínima trinta graus) ? No doutorado mudei para uma cidade maior, amigos diferentes, recinto desigual, pagamento superior, e como acreditava que o meu valor era ditado na minha aparência: oferece-lhe mega hair nos cabelos, apresenta-lhe mais dietas, dá-lhe Carmem Steffens, apresenta-lhe Mr. Office, apresenta-lhe Zara. Cartão de crédito a toda a hora estourado. Sempre sem dinheiro. Viagem com os amigos?

Não poderei. Dinheiro pra um bom vinho? Não possuo. Tickets para assistir show das minha bandas favoritas? Não poderei adquirir. Dinheiro pra comer em um prazeroso restaurante? O que eu tinha? Muitas roupas, vários calçados, cintura 36, cabelos longos e sedosos, maquiagem top com intenção de rebocar meu rosto e, claro, não pode faltar, creme anti rugas. Pois onde agora se viu a mulher com quase trinta anos não usando creme anti idade? Aos vinte e sete anos me preparava pra iniciar um pós doutorado nos EUA. Tinha tudo pra estar em êxtase. Porém, a idéia de inciar uma nova fase em outro povo estava me causando mais ansiedade do que satisfação. E se não gostarem de mim?

Será que estou muito gorda? Será que a minha pele está manchada? Será que meu mega hair está hidratado? Como irei transportar tantas roupa/sapato se o limite de peso da mala é 32 kilos? Será que as minhas roupas e calçados estão ultrapassados? Até que me dei conta: por que diabos essas questões estão brotando pela minha cabeça agora?

Por que estou tão focada na minha aparência, em vez de estar focada nessa oportunidade estupenda de se viver em outro estado, compreender outra cultura, visitar novos lugares e trabalhar próximo a feras da minha area? Neste vortex de aflição e conflito, resolvi fazer o seguinte experimento: eu me mudaria para Austin levando uma mala com só 6 trocas de roupa e dois pares de calçados. Eu passaria 6 meses com “apenas” essas coisas. A minha mãe achou que eu estivesse ficando louca.

E eu realmente estava. Louca e cansada de carregar tanta bagagem, tantas opções de vestimenta, e mesmo então tanta insegurança sobre a opnião das pessoas ao meu respeito. Nas primeiras semanas de serviço eu ficava com susto das pessoas notarem que eu a toda a hora usava as mesmas roupas. Na portaria do meu dormitório tinha temor até mesmo do porteiro notar. Sabe o que aconteceu? Ninguém notou. Em 6 meses ninguém reparou as repetições das minha roupas ou dos sapatos.

Ou se notaram, não verbalizaram. Após seis meses percebi que todas as minha neuras não mais faziam significado. Percebi que as pessoas que gostaria que ficassem ao meu lado, não se baseariam apenas no que visto e no que calço. Se baseariam em suas afinidades para comigo. Pela primeira vez experimentei a sensação de autonomia. Liberdade porque sei que carregava comigo somente o necessario, nada de excessos.